porto alegre pontal

Porto Alegre Pontal

Porto Alegre Pontal

Porto Alegre Pontal :
Proposição
Ano: 2008
  O gesto inicial foi o de enviar um e-mail para diferentes destinatários em Porto Alegre no dia 12 de novembro de 2008. Nessa data estava sendo votado às pressas pela Câmara de Vereadores o escandaloso projeto de lei que permitiria a construção de empreendimentos residenciais na área do Pontal do Estaleiro, colocando em risco toda a orla do Guaíba.

No espaço destinado ao assunto estava escrito Porto Alegre Pontal :, e no corpo do e-mail encontrávamos a frase Saber se vender. Bem mais abaixo e não visível inicialmente vinha a pergunta Você sabe?. A frase e a pergunta não estavam próximas uma da outra, sendo que a pergunta ficava escondida e surgia depois, ao rolarmos a barra lateral do e-mail para vermos o que se encontrava mais abaixo.

Ao escrever o título para o assunto, e depois elaborar a frase e a pergunta, ocorreu então que elas relacionavam o publico e o privado, posições externas e internas, situações coletivas e pessoais, como se a linguagem misturasse ou conectasse espaços. As frases de certa forma deslizavam, oscilavam do coletivo ao individual, e vice-versa, e nesse oscilar produziam uma espécie de abertura, de conexão, de dentro-fora.

O que havia me impulsionado fora uma sensação de mal-estar, de indignação face à estupidez, à especulação, à noção de um onipresente mercado no horizonte para onde tudo parece ser arrastado. Assim, estabeleceu-se essa relação entre uma sensação pessoal e um questionamento, um perguntar sobre situações com as quais somos ao mesmo tempo coletivamente e individualmente confrontados. Quer dizer, enfatizou-se a relação entre o pessoal e uma circunstância mais geral e publica: a de que todos nós ― quer dizer, eu e aqueles a quem me dirigia ―, vivemos nesta cidade e de que são essas vivências que constituem esse espaço, ou que fazem parte dele.

Num primeiro momento não havia percebido todas essas implicações, mas quando vieram as respostas elas apresentavam e indicavam essa situação. Não tinha certeza e não dava como certa a possibilidade de que haveria respostas, embora essa possibilidade parecesse evidente, pois se tratava de perguntar. Mas fiquei positivamente surpreso com aquelas recebidas, bastante diversas entre si, refletindo essas diferentes situações acima referidas, bem como posições existenciais (acho que estou aprendendo muito com tudo isso). O trabalho se constituía precisamente ali, nessa conversa, nessa inter-relação, nesse intervalo, nesses outros olhares e possibilidades que surgiam num pequeno diálogo, nesse espaço de um perguntar e responder, e responder e perguntar.

Finalmente, a proposta se conectava, deslocava e desenvolvia de outra forma problemas e noções também presentes em trabalhos do mesmo período como Prosa de Jardim, Pontuações para dentrofora, ou mesmo anteriormente como no caso de A dúvida e Apresentações do Deserto.