transplantes

Transplantes
Proposição realizada em parceria com Maria Ivone Dos Santos. Porto Alegre, 2004.
Memorar Memorar Memorar
Memorar Memorar Memorar



Começamos a realizar este trabalho quase sem nos darmos conta do que estávamos fazendo e de suas implicações.

As primeiras plantas recolhidas dos jardins do bairro Petrópolis em Porto Alegre foram transplantadas num pequeno canteiro, no térreo de um apartamento onde morávamos na avenida Bagé entre 1997 e 1999. Elas haviam sido gentilmente oferecidas por moradores do bairro, às vezes após uma breve conversa de calçada.

Tempos depois percebemos que as casas e seus jardins estavam desaparecendo, junto com seus moradores e suas conversas. Quando nos mudamos para onde estamos hoje, essas plantas nos acompanharam.

Depois disso, pois escrevo do presente, com grande velocidade as demolições eclodem em todas partes de Petrópolis. As casas viram escombros e grandes edifícios começam a surgir da noite para o dia, especulando as alturas: o horizonte se torna vertical. Vende-se a imagem em concreto de um modo de vida, onde o outro desse processo, seja ele pessoa, animal, coisa ou planta, significa muito pouco.

Quando isso começou a ocorrer sentimos estes impactos e percebemos ter em casa parte dessa memória recente. Continuamos então a acolher em nosso jardim mais plantas, desta vez, vindas de casas já demolidas: jardins em processo de perda e desaparecimento.

As fotografias com as legendas que acompanham este texto não são o trabalho mas indicações sobre um processo em andamento. Transplantes é uma proposta não-expositiva, para pensarmos esses impactos, deslocamentos, rememorações e a alteração de valores que se produzem nesses gestos.


Hélio Fervenza e Maria Ivone Dos Santos
Porto Alegre, 2004